Nunca tive medo da solidão. Pelo
contrário. Tanto que aos 12 anos promovi meu isolamento dentro da própria casa
dos meus pais. Me recusei a dividir as noites com minha irmã para desfrutar daquela
sensação de conforto que a solidão insistia em despertar. A garagem virou meu
quarto. Confesso que descia as escadas com medo, não sei ao certo do que, mas
ao me deparar com aquele espaço só meu esquecia todo o resto. Talvez porque,
desde muito pequena, sempre estive rodeada de pessoas, praticamente as 24 horas
do dia. Os poucos momentos em que ficava sozinha exerciam um fascínio sobre mim.
O silêncio. Quando você pode ouvir o eco do próprio pensamento. E, assim, segui
buscando a solidão como minha única companheira. Percebi, muito tempo depois,
que era uma necessidade inata, que nasceu e vai morrer comigo. Preciso desses
encontros comigo mesma, que só acontecem na ausência de qualquer outra pessoa,
para me reorganizar. Separar o que devo levar comigo e o que posso deixar pra
trás. Como se fosse o reinício diário de um processo. Que só tem lugar na
solidão!
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